Em pouco mais de dois anos, a Lácteos Brasil (LBR), megacompanhia do setor leiteiro nacional, que concorria de igual para igual com outras gigantes do setor, como BRF e Nestlé, foi do céu ao inferno. A empresa amarga uma grave crise, deflagrada por uma dívida estimada em R$ 1 bilhão, que a fez entrar, recentemente, com pedido de recuperação judicial.
Depois de chegar ao mercado e ocupar o terceiro lugar no ranking do setor lácteo nacional - BRF detinha o primeiro lugar e a Nestlé o segundo -, a LBR, oriunda da fusão da gaúcha Bom Gosto com a Monticiano (Goiás), decidiu suspender o pagamento a credores e busca agora a formulação de um plano de reestruturação. Com um faturamento total de R$ 2,4 bilhões, 31 fábricas, 56 mil fornecedores de leite e uma captação de 1,3 bilhão de litros de leite ao ano no País, a empresa inicia o processo de reestruturação com substituição de sua diretoria, com a nomeação de um novo presidente-executivo (CEO), Rami Goldfajn, e um diretor-presidente, Nelson Bastos.
Frente a este cenário, surge o temor de que as dificuldades financeiras da empresa tenham reflexo no pagamento de fornecedores. "São 25 mil produtores gaúchos vinculados à Bom Gosto e à LBR e que agora vivem um temor de que o pior aconteça", disse o presidente da Associação Gaúcha dos Laticinistas (AGL), Ernesto Krug. Segundo ele, a associação recebeu algumas denúncias sobre atrasos nos pagamentos pela entrega do leite, ocorridos no mês de novembro. "São casos pulverizados, mas que geram inquietação. O pagamento foi feito, mas atrasaram", disse o dirigente. Segundo Krug, a LBR conta com 25 mil produtores no Estado, os quais são responsáveis pela captação de 2,3 milhões de leite ao dia, volume que representa cerca de 23% da captação leiteira diária no Estado, estimada em torno de 10 milhões de litros.
A empresa, através de sua assessoria de imprensa, assegura que não houve atraso nos pagamentos e que "colaboradores, clientes, produtores e cooperativas não serão afetados: a LBR vai honrar com os compromissos e efetuar os pagamentos em dia a funcionários e fornecedores, bem como manter os volumes de captação de leite e o fornecimento regular de seus produtos aos clientes."
O diretor-executivo do Sindilat, Darlan Palharini, confirma que o sindicato não foi informado sobre atrasos no pagamento de fornecedores e disse não acreditar que, a médio prazo, haja motivo para apreensão. "Caso a crise da empresa venha a se agravar, os produtores vinculados a ela serão rapidamente absorvidos por outras empresas, pois produzem matéria-prima de alta qualidade." Para ele, a crise pode ter se originado dos altos custos de produção e da matéria-prima, resultando em margens muito apertadas. Para Palharini, o sistema tributário brasileiro é um dos principais responsáveis pela situação da LBR, especialmente no que diz respeito aos créditos de PIS/Cofins que não podem ser monetizados. A empresa detém cerca de R$ 500 milhões em créditos, o que representa metade da dívida. Esses créditos são gerados na compra de insumos, mas, como o setor de lácteos é quase todo isento de PIS/Cofins, a empresa não consegue utilizar o crédito.
O presidente da Fetag-RS, Elton Weber, também nega que a entidade tenha recebido denúncias de atraso nos pagamentos. O mesmo afirmou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Tapejara, Jussara Salete de Mello. "Há uma onda de especulações, mas nada de concreto. Dos nossos 1,8 mil associados, nenhum reclamou de atrasos", afirmou. O presidente do sindicato rural do município, Moisés Moro, disse que, entre os grandes produtores, não houve denúncias de atrasos. "Conheço o Wilson Zanatta, até pouco tempo atrás ele era produtor, e nunca deixaria o pessoal mal", destacou.
Entre as marcas de propriedade da LBR, estão Parmalat, Leitebom, Bom Gosto, Líder, DaMatta, Ibituruna e São Gabriel. A megaempresa foi criada a partir da fusão entre o laticínio Bom Gosto (com 26,3% de participação), do empresário Wilson Zanatta, e da Leitbom, controlada pela Monticiano (com 40,5% das ações). Com 30,3% do capital da LBR, o Bndes também compõe o quadro acionário da empresa.
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