sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Inclusão de portadores de deficiência ainda enfrenta obstáculos

O tema escolhido como base para as reflexões na Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla (de 21 a 28 de agosto) propõe pensar uma questão muito vivenciada no cotidiano, mas atualmente pouco percebida e debatida, que é a indiferença social. Isto por conta das bases culturais que vem se arrastando historicamente. Numa demonstração de reconhecimento das lutas empreendidas contra as adversidades, o preconceito e a discriminação, a Federação Nacional das APAEs adotou como temática para discussão, “A Pessoa com Deficiência Quebra a Cultura da Indiferença: Tenha Coragem de Ser Diferente”.
Historicamente, existe uma grande dívida social para com as pessoas com deficiência. Faltam políticas públicas voltadas para garantia de qualidade de vida destas pessoas e debates sociais e políticos a respeito das necessidades e a falta de apoios voltados às necessidades de cada deficiência, o que justifica a dificuldade de cobrar os direitos.
A inclusão de portadores de deficiência intelectual ou múltipla continua sendo a grande bandeira dos órgãos que lutam pelos direitos dos deficientes. De acordo com a Lei 8213/91 de 24/07/1991, conhecida como Lei de Cotas, as empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiências.
Conforme a assistente social da Apae de Tapejara, Marilvane Arboit, o órgão é totalmente favorável e luta pela inclusão em todas as áreas, para que os portadores de deficiências possam conviver com os demais. “Realizamos um trabalho constante de divulgação e contato com as empresas para inserir nossos alunos no mercado de trabalho”, frisou.
A Apae atende quatro municípios, com 134 usuários com diversas deficiências, e apenas três alunos com deficiência intelectual estão ativos no mercado de trabalho. Isso porque vivemos em uma situação de injustiça histórica: há uma cultura ainda de não inclusão das pessoas com deficiência no nosso cotidiano, no mundo do trabalho. Algumas empresas ainda estão sob esta influência e tem ideias pré-concebidas que fazem com que essa inclusão não seja feita da forma como deveria. Há outros fatores que são alegados como a falta de pessoas com deficiência qualificadas, as limitações que impossibilitam de realizar determinadas atividades, ou ainda a não aceitação da família. “Infelizmente existe um preconceito inconsciente dentro da própria família. Alguns pais preferem ter os filhos dentro de casa, com a garantia de receber mensalmente o benefício a que têm direito, a vê-los produzindo com carteira assinada”, explicou a assistente social.
Um exemplo de empresa que se adequou às cotas e é consciente da importância da inclusão é a Usacon. Há 34 anos em Tapejara, possui em seu quadro de servidores nove pessoas com deficiências físicas e intelectuais. “Procuramos estar sempre dentro do que lei exige, e para isso precisamos estar constantemente à procura de pessoas com alguma deficiência para trabalhar conosco”, explicou Beatriz de Linhares. A chefe de produção, Gelci Campana Costela, salienta que a empresa acolhe muito bem os deficientes, “todos os funcionários ajudam e entendem que eles possuem limitações, mas devem ser tratados com respeito”, disse.
Um exemplo é o funcionário do almoxarifado, Cassiano Ingrácio, portador de deficiência intelectual. Ele está na empresa há mais de um ano e é símbolo de superação, pois vem diariamente do município de Ibiaçá, onde reside. A chefe do setor, Luciana Brunetto, tece elogios ao jovem: “ele é muito esforçado e educado”. Ela conta que, no início não foi fácil, mas num exercício de paciência funcionário e chefe desenvolveram uma amizade e respeito mútuo. “Aprendi muito com o Cassiano”, finaliza.
O jovem demonstra felicidade no seu local de trabalho e se limita em dizer que gosta muito de trabalhar e é grato pela oportunidade que recebeu.

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