quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Entrevista: Transtornos de Ansiedade quais são e como tratá-los

“Deve-se entender que a pessoa está sofrendo de uma doença e que não está inventando os sintomas para chamar a atenção”
Os índices de Transtornos de Ansiedade como, por exemplo, Fobia Social, Transtorno do Pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo e Estresse Pós-Traumático, têm aumentado de forma significativa.
O Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) atualmente apresenta-se como um importante problema de saúde pública, visto que é o segundo transtorno mais prevalente em locais de assistência à saúde pública, atingindo 11,5% dos atendimentos, conforme dados da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Segundo dados da Organização mundial da Saúde, 450 milhões de pessoas sofrem ou sofrerão de problemas mentais, neurológicos ou comportamentais ao longo da vida, nas suas diferentes manifestações. Os transtornos de ansiedade são extremamente frequentes e seus sintomas podem ser tanto sensações físicas quanto pensamentos incômodos. Sintomas estão presentes na população saudável quando vivenciamos uma situação incomum ou muito significativa (por exemplo, antes de fazer uma prova, de se apresentar em público ou de um encontro amoroso importante), porém é necessário que estejam presentes em um grau exagerado, afetando a vida diária da pessoa, para representar um problema que necessita de tratamento médico.
A reportagem do NT entrevistou o médico Psiquiatra da Saúde Center Clinica, Dr. Paulo Lague Júnior, sobre esse tipo de transtorno. Confira:
Novo Tempo: Quais os principais transtornos de ansiedade e como identificá-los?
Paulo Lague: Os transtornos de ansiedade mais prevalentes são o transtorno de ansiedade generalizada (TAG), a fobia social, o transtorno de pânico, o transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e as fobias específicas.
NT: Qual o tratamento indicado para pessoas com esses transtornos?
Paulo:
O tratamento baseia-se no uso de medicação e psicoterapia. A medicação é fundamental para a redução dos sintomas emocionais e físicos de ansiedade, para a redução dos medos e para o bloqueio completo das crises de pânico. A psicoterapia com maior comprovação de eficácia para os transtorno de ansiedade é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que associada ao tratamento medicamentoso é extremamente benéfica para os pacientes, visto que nesse tipo de psicoterapia eles aprendem a lidar com os seus sintomas.
NT: A depressão pode ser considerada um transtorno de ansiedade?
Paulo:
Não, pois a depressão é um transtorno do humor. No entanto, é muito comum a depressão ocorrer associada a sintomas de ansiedade, assim como ocorre frequentemente de um mesmo paciente apresentar depressão associada a um ou mais transtornos de ansiedade, como, por exemplo, possuir depressão, fobia social e transtorno de pânico. Uma grande vantagem em termos de tratamento é que existem medicamentos que tratam todas as condições ao mesmo tempo, evitando-se assim o uso excessivo e desnecessário de medicações.
NT: Há diferença na incidência de transtornos psiquiátricos entre homens e mulheres? Por que isso acontece?
Paulo:
As mulheres apresentam transtornos do humor e de ansiedade com uma frequência maior do que os homens. Isso ainda não está bem esclarecido pela ciência, mas acredita-se que esteja associado às flutuações dos níveis de estrogênio ao longo da vida da mulher. Os maiores riscos encontram-se no período pós-parto e na época da menopausa.
NT: Quais os sintomas físicos do TAG?
Paulo:
O portador de TAG pode apresentar os mais variados sintomas físicos, como batimentos cardíacos acelerados, falta de ar, sensação de asfixia, dores no peito, dores de cabeça, tremores, calafrios, palidez, suor excessivo, tonturas, boca seca, comprometimento da memória, formigamentos, tensão muscular, dores generalizadas pelo corpo, náuseas e diarréia, dentre outros sintomas.
NT: Como devemos agir com uma pessoa que possui transtorno de pânico?
Paulo:
Deve-se em primeiro lugar entender que a pessoa está realmente sofrendo de uma doença e que não está, por exemplo, inventando os sintomas para chamar a atenção. As crises de pânico são involuntárias e inesperadas, ou seja, surgem de repente e não dependem da vontade da pessoa. Os ataques de pânico duram em média de 15 a 30 minutos e sempre passam naturalmente. Por pior que seja a crise de pânico, o ideal é tranquilizar o paciente e esperar que a crise cesse. Depois, procurar um médico psiquiatra com brevidade para poder ser iniciado o tratamento. Quanto mais cedo ele for iniciado, menor será o sofrimento da pessoa e dos familiares e melhor será o seu resultado.
NT: É comum crianças desenvolverem esses transtornos? Como os pais devem proceder para identificá-los e tratá-los?
Paulo:
Tanto a depressão quanto os transtornos de ansiedade podem acometer crianças e adolescentes. O recomendado é que pais e professores não subestimem a importância da mudança de comportamento da criança ou do adolescente e que não retardem a procura por auxílio médico.
NT: Quais as compulsões mais frequentes do TOC?
Paulo:
O TOC caracteriza-se pela ocorrência de obsessões que geralmente levam o paciente a realizar compulsões. As principais compulsões (manias, rituais) são lavar as mãos frequentemente, verificar as portas, as janelas ou o gás, realizar contagens e perder bastante tempo organizando, alinhando ou colocando em ordem alguns objetos.
NT: Porque a fobia social é mais comum na adolescência?
Paulo:
A fobia social costuma iniciar na adolescência, geralmente em pessoas que já eram tímidas durante a infância. Devido ao fato de a adolescência ser um período difícil, com vários fatores estressantes, cobranças e comparações, o transtorno inicia-se nessa fase. Na maioria das vezes, o curso da fobia social é crônico. Se a fobia social não for tratada adequadamente, provavelmente acompanhará a pessoa durante toda a vida.
NT: Qual é o papel da família no auxílio de pacientes com transtornos psiquiátricos?
Paulo:
O papel da família é fundamental em qualquer transtorno psiquiátrico. A importância está na identificação do problema, quando se percebe que o comportamento da pessoa está modificado em relação ao que era antes, na compreensão do problema como uma doença e não como uma fraqueza ou falta de vontade da pessoa e no incentivo em manter o acompanhamento psiquiátrico e o uso correto da medicação. Por mais que seja difícil o tratamento, os familiares jamais devem abandonar o paciente.

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