Para abordar um assunto de imensa seriedade e gravidade, em primeiro momento é necessário esclarecer os fatores que determinam o abuso sexual contra a criança e adolescente. O abuso sexual é uma situação em que a criança ou o adolescente é usado para gratificar o prazer sexual de um adulto ou até de um adolescente mais velho.
Inicialmente o abusador busca seduzir sua vítima com ‘iscas’ premeditadas, logo a domina através de uma relação de poder. Caracteriza-se o abuso sexual desde carícias nos órgãos genitais, pornografia, masturbação na presença da criança, o voyeurismo (manifesta-se de várias formas, embora uma das características-chave é que o indivíduo não interage com o objeto, por vezes, a vítima não sabe que está sendo observada, em vez disso, observa-o tipicamente a uma relativa distância, talvez escondido, o que servirá de estímulo para a masturbação, durante ou após a observação), a exploração sexual e até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência.
Este agressor em contato com a vítima tortura-a com pressões/agressões psicológicas, ameaçando-a de morte ou surras. Também recompensam a vítima com dinheiro, brinquedos, doces, entre outros atrativos, para que a mesma continue silenciando tais vivências e se sinta seduzida, envolvida com o abusador.
As crianças e adolescentes abusados sexualmente, podem não apresentar violência física (vestígios de hematomas), para que o agressor não seja descoberto, e deste modo continue satisfazendo suas perversões. As vítimas são ameaçadas para que mantenham o silêncio, entretanto, antes destes temores, elas são conquistadas e ganham confiança e afeto daquele que abusa.
Outra circunstância, de acordo com Azevedo, (2001) é quando o abusador goza de prestígio social, caso mais comum do que se imagina. Essas pessoas aparentemente respeitáveis acabam por manipular a situação de tal modo, que ficam parecendo vítimas de uma cilada e não os culpados.
A criança que sofre dessa violência física e psicológica é atraída exclusivamente para objeto de prazer sexual. É evidente que esta violência deixa marcas profundas no psiquismo das vítimas. Quanto mais tardar a descoberta, mais difícil será para a vítima revelar o abuso, pois acabam condicionadas pelo medo das ameaças, além de pensarem que se revelarem tal segredo será vista como cumplice e culpada. Nada estranho sentirem este sentimento, pois é o que o abusador constrói em seu psicológico.
Mesmo que a violência sexual não venha de um membro da família, os prejuízos psíquicos são de mesma gravidade. A criança que quebra o segredo, deverá sempre ser acolhida e direcionada a realizar psicoterapia/análise/terapia com um psicólogo, o que proporcionará melhorias nas sequelas psíquicas e físicas frente aos sintomas do trauma. Outras vezes só conseguirá verbalizar o abuso em tratamento psicológico, quando um responsável a leva por motivos de mau comportamento.
Com o tratamento psicológico, os pais também se fortalecem e podem, então, dar ao filho o apoio de que ele tanto precisa. A terapia em ambos, pais e filho, permitirá lentamente a reconstrução psíquica frente os danos sofridos desta violência devastadora.
Quando a vítima revela tal vivencia terá de enfrentar um turbilhão de sensações advindas do trauma causado, onde o psicólogo ajudará este paciente a visualizar, aos poucos, que ela nunca foi culpada ou cumplice. As cicatrizes irão diminuir, e sua vida não se estacionará por conta do trauma sofrido, tendo a oportunidade de reconstruir aquilo que mutilou seu emocional.
O abuso sexual pode gerar nas vítimas sentimentos ambíguos, conflituosos, como repulsa do agressor e, ao mesmo tempo, diante da sedução conduzida e vivida, poderá sentir piedade e solidariedade do mesmo. Ainda pode tentar apaziguar os fatos pelo temor de que as ameaças sobrevenham, por isso o dano adjetiva-se com vasta gravidade no psicológico da criança ou adolescente.
O manejo para romper e prevenir o abuso sexual é por meio de um maior preparo, não somente aos psicólogos, mas também aos pedagogos, professores, médicos e outros profissionais. Também, promover mais a população sobre esclarecimentos dos sinais e sintomas que a criança possa vir a apresentar.
Conforme a literatura especializada, alguns dos sintomas que a criança pode apresentar, ou seja, surgem alterações bruscas no seu comportamento habitual:
- Alteração do sono: agitação noturna; recusa para dormir; pesadelos;
- Alterações alimentares: falta de apetite; rejeição por certos alimentos que comia normalmente; enjoos; vômitos;
- Alterações comportamentais e psicológicas: agressividade; rebeldia; raiva; medos; isolamento; choro sem causa aparente ou sem justificativa apropriada; masturbação; urinar nas calças ou voltar a fazer xixi na cama; temor para defecar; mostrar-se vigilante com o que se passa ao seu redor; rejeição de certas pessoas ou animais; queixa de dores; desconfiança, autoestima rebaixada; negar-se a ir à escola; Alterações cognitivas: queda no aprendizado; ansiedade; depressão; pânico;
Diante das ameaças e seduções do abusador, a criança ou adolescente perde a confiança nas pessoas, sente medo, e assim silencia os fatos, sofrendo calada. Uma dica é sempre ouvir o que a criança tem a dizer, principalmente em ‘entrelinhas’ nas suas queixas e atentar-se com eventuais mudanças de comportamento.
Cintia Quissini - psicóloga
cintia_quissini@yahoo.com.br